quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

No Consultório: Skazki (de Fabiano Barroso e Piero Bagnariol, 2015).



De acordo com os próprios autores, Skazki é um zine – pelo menos é a informação que fisguei no blog da Graffiti 76% Quadrinhos. Para quem não sabe, a Graffiti foi uma das mais importantes revistas nacionais, responsável por revelar e divulgar diversos autores independentes. Foram 23 edições, de 1995 a 2012, até que os editores resolvessem partir para novas empreitadas.


Citar a Graffiti aqui faz todo sentido, uma vez que Skazki tem a intenção de celebrar os vinte anos da antiga revista. Fabiano Barroso e Piero Bagnariol são seus fundadores, autores também da graphic novel Um Dia Uma Morte (que já adquiri com o próprio Fabiano e em breve irei “diagnosticar” no Consultório). E eles se uniram novamente para fazer as três histórias presentes nesse volume.

Como disse lá em cima, trata-se de um zine – ou fanzine, termo tido por alguns como desgastado, e que parece ser sinônimo de revista amadora. Contudo, pesquisadores como Gazy Andraus e Henrique Magalhães são só alguns dos nomes que tem feito palestras e mesmo livros resignificando o sentido por trás desse tipo de publicação (a própria Graffiti, que muitos achavam ser um fanzine, ajudou a enterrar a ideia de que se tratava de um formato pouco profissional, graças a sua ótima qualidade gráfica e editorial).

Quanto às histórias, tratam-se de adaptações de contos literários antigos. Todos russos, algo fácil de notar tanto pelo nome da revista (Skazki quer dizer “histórias”, ou “contos”, ou “contos de fada”) quanto pela capa de Daniel Bueno (originalmente publicada no livro Russian Avantgarde).



Os contos adaptados são: “Um Crime Premeditado”, de Anton Tchekhov; “O Círculo Luminoso”, de Helena P. Blavatsky e  “Pássaro de Fogo”, de autoria indefinida (este último, reescrito e ilustrado por Fabiano).

A adaptação de Tchekhov, feita por Fabiano, ressalta o tom de humor já a partir do belo traço caricato, dialogando de maneira eficaz com o conto original. Já na adaptação de Blavatsky feita por Piero, o traço é sóbrio, adequado para o tom enigmático e místico da obra da autora.

A obra fecha com o ótimo artigo “Adaptação literária em quadrinhos: um retweet pra lá de criativo”, de Fernanda Isabel Bitazi. Ali, ela retoma discussões de Linda Hutcheon e Paulo Ramos para tratar das adaptações literárias no formato de HQ – tema, por sinal, sobre o qual Fabiano Barroso também pesquisa, com artigos publicados em livros como Clássicos em HQ (editora Peirópolis, 2013).

A revista é editada pela dupla, com 42 páginas, aparentemente num papel pólen, e impressa no método da risografia.

Diagnóstico: apesar de se apresentar como um zine, numa publicação aparentemente despretensiosa, Skazki é um trabalho de alto nível, muito bem feito e editado. 

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